segunda-feira, 13 de abril de 2009

História do Amapá- Parte III

"Quem bebe a água do Amapá, nunca mais sai desse lugar"
(...dito popular local, no Amapá)

Esse foi um dos motivos principais da política de Urbanização da Côrte do Rio de Janeiro no século XIX de Pedro II que queria fornecer para a cidade água potável, limpa e de boa qualidade. Não que ela viesse propriamente do Amapá, mas o caminho das águas para a Corte propriamente dito passava e ainda passa pelo Bairro como podemos ver o testemunho vivo dos canos centenários que vemos ao longo da Estrada Rio do Ouro e que segue pela Rua Guaporé, uma das principais e antigas ruas do bairro.
O motivo da Linha férrea que atravessa o bairro e que segue o longo desta famosa via e que hoje se tornou uma pequena rodovia estadual, a RJ-085, a lendária Estrada de Ferro Rio do Ouro, financiada por cofre ingleses, era trazer a infraestrutura para a instalação daqueles canos que vinha das fontes das águas de Xerém seguindo caminho de Mantiquira. Antigamente o pequeno lugarejo que conhecemos hoje como Xerém, eram as terras de um magnata inglês de nome George Chorem, daí a nomenclatura "Xerém" que deu nome ao bairro. E Xerém até hoje é um dos lugares privilegiados da Baixada Fluminense por estar próximo as serras e ao pouco que existe ainda da Mata Atlântica e que póde ser vista por boa parte da região da Baixada e do Amapá também que fica somente a menos de 20 km do local.
Às águas de suas cachoeiras e fontes ainda é fonte de recursos e captação da Compania das águas do Estado do Rio de Janeiro que faz trazer através de suas canalização as águas para a região Metropolitana do Grande Rio. Mas antigamente o caminho das águas seguia o caminho do trem Maria Fumaça e que é uma história muito curiosa na localidade. O trem saía de Xerém, passando pelo Mantiquira, atravessando a região do Lamarão e que ainda é remota e fazia sua parada no Km 43 onde hoje identificamos que é hoje o bairro Amapá. Em seguida, atravessando o Rio Iguaçu, há uma ruína antiga de abastecimento de água e outrora suprimento do trem e que ainda póde ser vista na localidade. Seguindo o curso da antiga linha, o trem fazia ainda sua parada na estação Babi já na região de Belford-Roxo e que hoje tem seu nome mudado para Recantus e fazia seu ponto final em Belford-Roxo onde se dividia o sub-ramal, Jaceruba e José Bulhões (hoje Vila de Cava). Ainda existe remanescentes da população local no Amapá que ainda alcançaram os tempos do trem pelo menos nos anos 40 para cá e que serão alvos de entrevistas e testemunhos para as próximas matérias dessa história.
Às águas trazidas pelo encanamento da adutora de Xerém e que passa pelo bairro, acredito eu, foi um dos motivos do sucesso da especulação imobiliária do Amapá que começou a se processar da metade da década de sessenta para cá, pois ao longo desse encanamento havia e ainda há muita ligações clandestinas da água que abastece boa parte da população do bairro. E mesmo depois da instalação oficial por parte do Governo Anthony Garotinho na primeira metade desse ano 2000, com a instalação da linha telefone, o asfaltamento da estrada principal do bairro que é a estrada do Amapá, a população ainda continua desfrutando desse abastecimento perene.
Mesmo assim quando das escavações dos buracos das sapatas de fundação de nossas casas no bairro no início da década de 80, logo sem aprofundar muito as escavações, o povo era surpreendidos com a quantidade de água no solo. O terreno local é bastante arenoso e úmido, o que explica a abundancia de água na localidade. Além disso, geograficamente estamos cercados pelo Rio Iguaçu e Capivari que desemboca no velho Iguaçu ao Sul do bairro. Os areais que por hora faz exploração no local deixam os buracos escavados das extrações de areia abundantes de água, o que torna atração e motivo de tragédia para muitos que procuram o local para lazer e banho diariamente.
E agora mesmo, com as escavações das primeiras sapatas do viaduto do trecho Arco Rodoviário que vai passar por cima da RJ-085, na Estrada Rio do Ouro, as primeiras pilastras que estão sendo escavadas , como eu mesmo testemunho, por trabalhar no Canteiro de Obras como vigia noturno, são de profundidade muito grande por causa do terreno arenoso e de grande abundancia de água.
O repórter do jornal carioca do século XIX, em sua crônica de sua viagem pelo trem do ramal Mantiqueira, publicado no Correio da Manhã descreve sua passagem pelo bairro, o que eu considero a primeira referência Impressa de nosso bairro que ao atravessar a ponte de ferro da linha férrea do rio Iguaçu, logo a seguir antes de aportar na estação 43, ele vê uma região pantanosa, cheia de várzeas e igarapés e que ainda podia se ver jacarés flutuando pela várzea na bacia local do rio Iguaçu. Mas também a região era foco de malária e febre amarela, o que era motivo de preocupação do Governo da época, pelo menos no que diz respeito à população da Corte.
Já nessa época, a nossa região, como as outras regiões da Baixada Fluminense já estava bastante abandonada, e seus rios já bastante assoreados; já passada à época da Colonização e do Ciclo da Cana de Açúcar. Suplantado pelo Ciclo do Ouro, a economia Imperial na época dera lugar à urbanização das cidades que procurava copiar à moda de vida à francesa e a inglesa, que eram os grandes credores e financiadores da nova moda de vida da população nacional. Nessa fase, na segunda metade do século XIX, o Brasil já começava a acompanhar a influencia da Revolução Industrial européia e procurava se urbanizar.
Barão de Mauá já lançava os primeiros paquetes e embarcações à vapor que já se tornara o coqueluche do transporte marítimo e a primeira ferrovia já havia sido inaugurada, tendo a primeira linha sido instalada de Mauá (Pacoaíba- em Magé) à Petrópolis.
Daí prá lá começou a expansão ferroviária com a extensão da Linha Férrea central do Brasil e que um de seus ramais levava à Belford-Roxo, onde havia a sub-divisão do Ramal Mantiquira onde passa pela nossa região. Já não era visto com bons olhos mais, devido a influência inglesa, a realidade brasileira no que tangia a escravidão e a política internacional fez com que Isabel, filha de Pedro II, na ausência de seu pai, forçada pelos magnatas ingleses e brasileiros fantoches e lacaios assinasse a Lei Áurea dando aos escravos a tão sonhada Libertação, pelo menos no papel, pois isso já vinha se arrastando por todos aqueles anos daquele século, por diversas Leis havia sido promulgada no intuito da libertação gradual dos negros: Lei do Ventre Livre, em que filhos de escravos já não podiam ser mais cativos, Lei Sexagenária, em que os mais de sessenta anos já conquistavam a alforria e finalmente a Abolição de 1888, o que não nos soa bem explicado como a Abolição da Escravatura. A História oficial nos omite, mas só Deus sabe o processo dessa política que só visava contingente para o Mercado Consumidor da época.
Foi sob esse Regime, e essa mudança urbana, que Pedro II fêz vir sob os trilhos do ramal Mantiquira, os cargueiros com os primeiros canos de água que sugaria ás águas da adutora de Mantiquira. E nesse rastro a população cresceu ao longo dessa via férrea e tantas outras e que viria formar a história da população, urbanização e crescimento de nossos bairros, inclusive o nosso Bairro Amapá.
Nos anos sessenta e metade da década de 80, duas grandes enchentes inundaram o Bairro. Fomos traídos pela chuvas e a abundancia de águas do Iguaçu e de seus diques em volta do grande afluente, e nessa época já estávamos morando na localidade. Mas isso é assunto para as próximas edições dessa história e também da fragmentação das fazendas e sítios da região em pequenos lotes o que deu início aos Loteamentos do bairro. A Reforma Agrária entre os anos 50 e 60 e que fez repartir as velhas terras da fazenda Colonial São Bento na Era Colonial logo deu lugar à uma expansão urbana quase que desordenada e que cresce a cada dia.
A construção do trecho do Arco Rodoviário que passará pela localidade, com sua logística, a demanda de mão de Obra local e geração de emprego e possibilidade de renda para a população local póde mudar perfil do local e uma grande movimento e mudança sociológica já começa a criar um perfil local trazendo influencias e ventos de mudanças.

Paulo Escriba

Nenhum comentário: